quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A Igreja entre empresas e ONGs

É notável a influência da cultura geral na vida e no comportamento da Igreja. Em partes isso é natural, uma vez que cristãos vivem a maior parte do seu tempo "fora" da Igreja, no trabalho, no comércio, nas escolas. E é notável que igrejas adotam elementos da cultura, como também a tecnologia e o modo de organizar a vida social, ou seja, não fazem uma avaliação crítica do comportamento social comum antes de adotá-lo no dia a dia pessoal e da igreja.
Dessa forma, é curioso que as empresas (indústria e comércio) de hoje se preocupem com o bem estar de pessoas que não estão necessariamente ligadas a elas e que não são suas clientes efetivamente. Isso também é uma forma de vender uma boa imagem institucional. O chamado Terceiro Setor está aí para demonstrar o vigor dessa maneira de fazer ações sociais sem esperar lucros diretos e imediatamente. As ONGs também são uma demonstração do mesmo espírito, mas como uma iniciativa a partir da sociedade civil. O objetivo civil em ambos os casos é a vida humana, o melhor convívio social e um mundo melhor e mais justo (à medida do possível).
Assim, as igrejas que pensam em ser percebidas pela sociedade como relevantes, necessárias, justas e que tenham "algo a dizer" (ou que esperam por um momento em que possam falar), não poderão pensar em ganhos, digo, em recolher a contribuição financeira de seus membros para projetos que beneficiem somente "os de dentro". Se num país capitalista a sociedade civil e as grandes corporações suspendem temporariamente a ânsia por lucros para pensar na qualidade da vida humana, a Igreja não poderá fazer menos que isso. Se fizer, será rejeitada e repudiada (e servirá apenas para ser lançada fora e pisada pelos homens, cf. Mt 5.13). Penso que boa parte dos problemas da Igreja com a sociedade e os detratores que a querem mal se dá neste ponto: a indiferença dos cristãos com as causas e demandas da sociedade mais ampla (além dos escândalos envolvendo os desmandos na área financeira). Se as igrejas se ocupassem menos consigo e dialogassem com os de fora, se envolvessem com a dor e o sofrimento das pessoas à sua volta e fizesse um trabalho de amor e serviço (como é a sua vocação), teríamos mais vez e mais voz (e respeito) dos de fora.
A Igreja teve início sendo "chamada para fora" (é isso o que significa o seu nome grego Ekklesía). Ao olhar "para dentro", ela perde a sua razão de ser. Ao trabalhar apenas para os de dentro, ela deixa de ser Ekklesía. Olhar para fora e para os de fora é o que dá sentido a sua existência.
Os bons empresários e homens de bem da sociedade "mundana" perceberam isso. Por que ela demora tanto a fazer o mesmo?