O que há nas igrejas que possa atrair pessoas? Pense.
Você iria a uma Igreja, assumiria
compromisso irrestrito com os programas que ela propõe, se necessitasse um
“milagre financeiro? Esse apelo atrai muita gente, mas de certo os mais
sensatos seguirão o conselho dado pelo bom senso e pela Bíblia para cada um
trabalhar (Mt 5.45; Ef 4.28; 2Ts 3.10).
Muitas pessoas que precisam de
aconselhamento talvez prefiram recorrer a um profissional que estudou para
isso; um psicólogo é uma boa alternativa – ainda que não seja a melhor e nem a
única.
Que outro motivo levaria alguém a uma
Igreja?
Pessoas desanimadas, cansadas da vida,
poderiam procurar uma Igreja. Mas também poderiam ir ao teatro, a um espetáculo
do tipo stand up comedy. Também poderiam assistir a uma palestra motivacional.
Há muitas alternativas às quais se possa recorrer que, convenhamos, são
melhores do que muitas igrejas por aí.
Pessoas da última e da nova geração
encontrarão dificuldade em procurar uma igreja, porque as Igrejas não têm dado
motivo que apele para tanto. As “respostas” que parte das Igrejas tem dado são
para perguntas que não têm sido feitas. Em grande parte, os programas semanais
e dominicais das Igrejas são rígidos demais em torno do conforto e bem estar daqueles
que sustentam a estrutura – falta vida e sinceridade. Não há espaço para variações,
porque há um time ganhando com a manutenção desse modelo – e em time que ganha
ninguém mexe.
Mas procure fazer um exercício de
alteridade, olhar a Igreja a partir do olhar do outro, de quem está fora da
Igreja. Esqueça por um minuto o que você sabe sobre salvação, sobre vida
eterna, sobre inferno, sobre bênçãos, e tente sentir-se atraído a uma Igreja
pelo que ela oferece, comparando-a com as ofertas existentes no mercado.
O que você consegue enxergar?
Seja honesto, e procure ser atraído a
uma igreja como ela se mostra a partir do olhar do outro.
Houve um tempo quando as Igrejas
influenciavam a sociedade, davam opções de vida condigna, mudavam leis, serviam
de referencial moral, apontavam caminhos alternativos razoáveis para toda a
vida, tinham um modo de pensar coerente e eram uma opção a ser considerada. Embora
com poucos membros em relação a população evangélica atual, as Igrejas formavam
uma sociedade diferente, vigorosa, alegre e que dava certo.
E hoje, quais as ofertas ela faz que
justifiquem a adesão a qualquer delas?
Há Igrejas que são clubinhos de
egoístas, que só pedem coisas ao deus Mamón o tempo todo; não conseguem
enxergar o mundo além do próprio umbigo e do dinheiro que ocupa suas fantasias e
nada sabem sobre generosidade, compaixão e comunhão com pessoas diferentes. Há
Igrejas com música de mau gosto e com pregadores sem qualquer capacidade para
fazer uso do microfone; homens e mulheres que mal sabem se expressar e assaltam
a língua portuguesa – e o ensino bíblico também. Não estou ridicularizando pessoas
simples; tenho em mente os aproveitadores da fé, que não conseguiram um bom
emprego no mercado de trabalho e migraram para as igrejas a fim de ganhar o
dinheiro de gente vulnerável a uma boa lábia.
Há muitas Igrejas que se fecharam em
si mesmas numa cúpula de pretensa santidade, e vivem apontando o erro dos
outros pensando que só eles irão para o céu. Que a salvação não depende do
comportamento reto é uma verdade que eles não conheceram ainda porque nada
entenderam das próprias palavras de Jesus.
Que atrativo, então, há para pessoas
de fora da Igreja? O que é que estamos fazendo de razoável que chame a atenção de
homens, mulheres, jovens e adolescentes para Jesus Cristo hoje?
As Igrejas não dão nada a ninguém; só
queremos para si e para acumular. Como escrevi aqui, só em 2011 a Igreja teve lucro (!) de R$ 460 milhões em
rendimentos com ações e aplicações financeiras!
A Igreja não é mais uma referência
moral inconteste. Há políticos, empresários, artistas e profissionais que
adotam o mesmo condicionamento da cultura produzida nas ruas, ou seja, o padrão
“mensalão” de que tanto se fala. Em muitos casos não temos sequer um discurso
atraente, pois nos voltamos somente para dentro, para a manutenção do que temos
e do que conseguimos, e não para o campo, para o mundo. Falamos linguagem de
gueto, por códigos e não por parábolas que usam as experiências cotidianas das
pessoas.
Concordo que precisamos treinar
missionários, mas urgentemente é preciso fazer cristãos para viverem suas
atividades cotidianas como missionários. Precisamos pensar em atender ao outro,
ao de fora, resgatar o significado da palavra Igreja, que no grego ecclesia,
“para fora”, mas que só entendemos como “para dentro e para nós”.
As nossas liturgias são boas, mas são
boas para nós. Os nossos programas são bons, mas são bons para nós. Os nossos
templos são bons, mas são bons para nós. Não gosto nem de pensar em pastores e
líderes que ordenam a retirada de pessoas mal vestidas de seus templos. Isso daria
um texto ais longo ainda!
Se eu consegui ser claro, você
entendeu que não quero acabar com tudo, “cospir no prato que tenho comido”. Se
eu consegui ser claro, você entendeu que precisamos nos arrepender, rever as
prioridades e voltar à cena, reaparecer, ou melhor, mostrar Cristo em nós, a
esperança da glória.
... a quem Deus, entre os gentios, quis dar a conhecer as riquezas da
glória deste mistério, a saber, Cristo em vós, a esperança da glória.
(Colossenses 1.27)