Uma resposta aos meus leitores
Diz o antigo ditado que “quem tem amigo não morre
pagão”. Eu o parafrasearia assim: “quem é amigo do rabi Yehuda Hochman, como o
prof. Franklin, não fica sem textos”, mesmo que os textos não respondam as questões
importantes. Recorrer ao auxílio do rabino Hochman ajudou a dar ares de
erudição, pelo que o prof. Franklin foi bastante elogiado por seus seguidores
(alguns irônicos, mas que claramente não leram ou não compreenderam o meu texto).
Vi na resposta dada a mim uma intensa cortina de
fumaça para os leitores. Nenhuma questão relevante do tema do conflito em si foi
abordada. Ao contrário, sem saber a distinção entre um ensaio e um artigo
científico ele cobrou precisão onde eu generalizei (o que é tolerável em um
ensaio), mas passou de largo – ignorou de fato, onde deveria ser rigoroso. Esse
recurso dele eu já havia apontado no meu texto anterior, quando escrevi: “[...]
cobrança feita ao prof. Chapman, de que
apresentasse Jesus como a solução para o conflito”. Ele concentrou-se e
insistiu nas questões periféricas, além de distorcer minhas palavras. Por
exemplo, ao citar o Líbano como uma possível democracia segundo os supostos
critérios dele, eu não elogiei nem afirmei que aquele país é uma “democracia
exemplar” (ele deveria ler o texto com boa vontade). Do mesmo modo, quando eu
disse que a maior comunidade étnica de cristãos está no Egito, os coptas, não
equivale, nem de longe, a elogiar o Egito por nada! Esse recurso da distorção deve
funcionar bem com os leitores dele, mas não deu certo comigo.
Não vou estender a discussão, porque me senti bastante desrespeitado e
embora não esperasse algo melhor, dei a ele o benefício da dúvida. Mas o nível
não foi o que esperava. Desse modo, três pontos precisam de uma resposta.
O primeiro é periférico – mas largamente explorado na sua réplica, foi a
afirmação generalizada que fiz sobre a aliança do novo Estado de Israel com a
União Soviética. Ele (ou o rabino ghostwriter)
negou haver essa aliança, mas confirmou que Israel comprava armas
contrabandeadas da Thecoslováquia. Ora, em 1948 a Thecoslováquia se tornou um
satélite da URSS, com regime comunista e tudo. Qual a novidade aqui? E qual o
meu propósito ao escrever isso? Precisão histórica? Não, como eu disse, escrevi
um ensaio. O que pretendi, mas ele se desviou do problema real do meu texto,
foi mostrar ao prof. Franklin que nas questões ligadas a Israel ele não se
importa com o regime político vigente. Já no Brasil, ao contrário, ele tem se
esforçado para parecer um firme defensor da democracia de direita contra o
socialismo. Qual o critério, afinal? Com isso, ele coou um mosquito e deixou
passar alguns camelos, como segue.
No texto notei um autor que gosta de estatísticas ao reclamar que usei
dois parágrafos apresentando minhas credenciais acadêmicas. Ele debochou, desconsiderou
e fez chacota com isso. Mas foi preciso apresentar-me, haja vista eu não
circular frequentemente em seminários e congressos como ele. Na academia costuma-se
apresentar credenciais antes de uma intervenção, e foi o que fiz. Qual a
surpresa? Mas ele (ou o rabino?) não se furtou escrever quatro longos
parágrafos defendendo o indefensável e se gabando de algo que, como cristão (à
exceção do rabino), não deveria se vangloriar: que os grupos “de resistência” que
apresentei, formados à revelia dos britânicos mandatários, além de Jabotinsky,
serem todos como “soldados da paz”. Terroristas são sempre os outros, né? Ainda
hoje é assim.
As minhas afirmações sobre esses grupos e sobre Jabotinsky podem ser conferidas na obra de
Antonius H. J. Gunneweg, História de
Israel. As informações dadas pelo prof. Franklin têm como fonte de pesquisa
o rabi Yehuda Hochman. Há norma ABNT para
arrolar isso nas referências? Eu sugeri no texto anterior que procurasse
a definição de “terrorismo de Estado” ou
“terrorismo do alto”, mas não houve a menor consideração nem boa vontade sobre
os pontos centrais do meu texto. Não se pretendeu construir um diálogo, apenas zombar,
desmerecer, desqualificar. Sugiro, então, ler o manifesto de 1923, de Jabotinsky,
mas fazer isso com uma lente cristã, não belicosa nem parcial, e refletir sobre
o texto [1]. Os cristãos palestinos foram atingidos pelo amplo estabelecimento
dos judeus na região e por terem de sujeitar a estes o controle de seus lugares
sagrados [2].
Por que não dar ouvidos às reinvindicações de
nossos irmãos na fé? Qual resposta foi dada aos cristãos palestinos? Eles são “menos
cristãos” por terem nascido naquela região? E os árabes do mesmo modo? Isso não
é preconceito? Cristo ou Paulo ou qualquer outro autor do Novo Testamento estimulam
segregação dessa ordem? Na réplica, o que o prof. Franklin disse sobre os oito
pontos que depõem contra o “mito da única democracia no Oriente Médio”? Silêncio.
O prof. Franklin reclamou que não respondi a
nenhuma das perguntas sobre a Palestina e disse “simplificar” pedindo que que
eu informasse “quando
e onde existiu um país árabe chamado Palestina, e quais eram suas fronteiras e
sua bandeira antes de 1948? E por que a Jordânia dominou a Cisjordânia e metade
de Jerusalém durante 19 anos (1948-1967) e não fundou na época um estado
palestino?”. Na verdade a resposta está dada no texto e, novamente, ele me
acusa de má vontade, mas por seu turno repete a má vontade de refletir sobre as
consequências do que escrevi (ele ou o rabino amigo seu). Mas eu explico
melhor, repetindo a citação de Truzzi.
As relações sociais no Oriente Médio não são
iguais às da Europa no mesmo período. Fronteiras rigorosamente delimitadas
criando “Estados soberanos coexistentes, mas em competição” (Ferguson, 2018, p.
111), é fruto da Paz de Augsburgo, reafirmada pela Paz de Vestfália um século
depois. O que marcava os territórios entre diferentes etnias árabes não era o
mesmo modelo nem o rigor europeu nessas questões. É anacrônico fazer tais
exigências ou mesmo comparações. E é completamente descabido cobrar de uma
cultura os mesmos aspectos e especificidades de outra. Quando o prof. Franklin
exige que palestinos e/ou jordanianos apresentem bandeira, certidão de
nascimento etc., ele requer desses povos um modelo social, jurídico, econômico
e político estranho aos seus costumes e tradições. Os judeus migrados para a
Palestina sim, tinham essa noção, porque vinham da Europa. Esse é um dos (muitos)
motivos do conflito: segregação de povos que estavam estabelecidos há bastante
tempo num território mais amplo com sua cultura própria. Mesmo assim, diante da presença dos judeus se ampliando, os árabes
instavam o estabelecimento de um governo democrático e a entrada como membro
pleno da Liga das Nações desde dois anos antes da fundação do Estado de Israel
(v. n. [2])
Assim, respondendo às oito perguntas sobre a
Palestina no texto anterior escrito por ele, temos: “(1) quando foi fundado, e por quem?”: modelos tribais étnicos arcaicos
não exigem fundação oficial nem cerimonial; os povos estavam lá e isso bastava. “(2) quais eram suas
fronteiras?”: eram estabelecidas por acordos informais, assim como os vemos,
por exemplo, no Antigo Testamento (estou fazendo uma generalização para efeitos
comparativos!). “(3) qual era sua capital?”: uma pergunta que não faz sentido
dentro do modelo em vigor. É como perguntar qual a capital dos Tupinambás? Qual
a Capital dos Navajos? “(4) como se chamavam suas principais cidades?”: se ler
a minha tese (2018) sobre o turismo evangélico para a região poderá conferir o
nome de algumas cidades, inclusive aprender sobre o comércio, turismo,
cotidiano, rotas ferroviárias etc. na Palestina do período. “(5) quais eram
suas bases econômicas?”: agrícola, comércio e turismo na virada para o século
XX. “(6) quais eram suas formas de governo?”: Otomano até o final da Guerra e
Mandato Britânico após ela. “(7) quem eram seus líderes antes do egípcio Yasser
Arafat?”: está reconhecendo haver um líder! Então fica subentendido existir um
povo, uma cultura e tudo o que negou anteriormente. “(8) que idioma falavam?”: é preciso responder a isso? Quem não sabe ter sido o árabe?
Aí estão as oito respostas que eu havia dito serem respondidas, desde que se
lesse o texto com boa vontade.
Reafirmo: considero ser desumano e nada cristão
negar a um povo a sua identidade, e mais, o direito de defender a sua
existência. Em relação aos judeus, chamam isso de antissemitismo; e em relação
aos palestinos? Qual o critério do prof. Franklin nessa questão que envolve
vida humanas acima de tudo e de cristãos por consequência? Em sociologia isso
chama-se genocídio, mas o prof. Franklin, apoiado pelo amigo rabino, insiste na
tecla do antissemitismo sem que ele faça uma autocrítica sobre as consequências
do posicionamento que assume. Como mencionei, um judeu criou um jornal à época
chamado The Palestine
Post! Não havia “Palestina”? A Organização Sionista
tinha um órgão chamado Anglo-Palestine
Company, fundada em Jafa em 1903 pelo Jewish
Colonial Trust, de Londres, iniciado por Herzl. Não havia “Palestina”?
(Gunneweg, 2005, p. 326).
Lamentavelmente tive de ler esse texto e continuo desejando que nós,
cristãos, olhemos para as questões do conflito, bem como para todas as demais
questões para as quais somos arrastados, com um olhar de reconciliação (como
destaquei no texto anterior). O que vamos dizer aos cristãos palestinos e às
famílias palestinas pelo apoio a um Estado (qualquer que seja) e a uma
ideologia? Que mensagem temos passado com essa atitude? Como ficam os povos
árabes dentro do cenário das missões cristãs? Nós optamos aleatoriamente por riscá-los
do mapa? Como cristão, eu não fui chamado para ter razão nem para dar a
resposta final a nenhuma questão, e não espero que o prof. Franklin passe a mão
na minha cabeça pelo que escrevi. De minha parte, está clara a minha
perspectiva sobre o tema e o meu desgosto por não ter encontrado um
interlocutor habituado ao diálogo.
Notas
[1] The Iron Wall: colonisation of Palestina: Agreement with Arabs
Impossible at presente. – Zionismo must go forward. Originally published in
russian under the title: O Zheleznoi Stene in Rassvyet, 4 november 1923. Também poder ler o livro que expõe esse
plano em “A Muralha de Ferro – Israel e o mundo árabe”, do judeu iraquiano Avi
Schlaim.
[2] Veja o ponto 6 no texto Teh Arab Case for palestine: Evidence
Submited by the Arab Office, Jerusalém, to the Anglo-American Committee of
inquiry, march, 1946. The Problem of Palestine. Para a arguição pela
entrada como membro pleno da “ONU”, veja ponto 9.
FERGUSON, Niall. A
praça e a torre. São Paulo: Planeta do Brasil, 2018.
GUNNEWEG, Antonius H. J. História
de Israel, dos primórdios até Bar Kochba e de Theodor Herzl até os nossos
dias. São Paulo: Teológica, 2005.
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