O breve texto a
seguir nasceu de uma reação feita por uma leitora a respeito de um ensaio que
escrevi, onde apresentei argumentos contra as afirmações que um pastor fez
sobre Israel. A discussão era completamente dentro do campo das ciências
sociais, não da Teologia. A leitora, por sua vez, cobrou de mim bases bíblicas
para a discussão (o que não era o caso), e então eu me dispus a responder os
pontos que ela apresentou.
Aqui, reproduzo uma expansão da minha
resposta a ela, por entender que ainda são questões candentes para muitos e muitos
cristãos hoje.
Em primeiro lugar,
pessoalmente, eu penso que somente o Senhor pode dar/trazer a solução para o
conflito Israel-Palestina (IP) e para os conflitos no Oriente Médio que
envolvem o islã também. No entanto, como cristão e como Igreja, entendo que todos
somos ordenados por Deus a trabalhar pela paz de todos os povos,
indistintamente (é imperativo o cristão
viver em paz com todos [Hb 12.14], ser pacificador a fim de ser chamado filho
de Deus [Mt 5.9] e amar os inimigos [Mt 5.43-44]). Tomar partidos, lados, posicionamentos ideológicos ou
nacionalistas não é a vocação da Igreja.
A leitora cobrou
posição sobre as promessas de Deus em relação a Israel, afirmando que as mesmas
são eternas e irrevogáveis. Ela reafirmou o seu entendimento de que a terra é
do povo de Israel. A isso eu respondo que irá depender de como lemos as
Escrituras. Podemos ler o que está no Antigo Testamento e permanecermos naquele
ambiente, usando interpretações judaicas (e até sionistas, o que penso ser
pior). Mas podemos ler o Antigo Testamento como cristãos, com as “lentes” do
Novo Testamento, dadas para nós pelos autores que escreveram essa parte da
Bíblia. Penso que devemos nos apoiar no que os autores inspirados por Deus
escreveram. E no Novo Testamento, leio em Hebreus 11.8-9 que o recebedor da tal
promessa “irrevogável”, o patriarca Abraão (quem mais que ele deveria tomar
posse da terra?!) peregrinou por ela como se fosse estrangeiro! Ele não
considerou a terra material, geográfica, com apego material indisputável, de
onde não deveria arredar o pé. Sabemos que as coisas de Deus se dão e acontecem
pela fé e já eram assim desde Abraão, o pai da fé. Ele entendeu isso,
mas cristãos hoje não compreendem.
Aprendo com essa
passagem que as promessas de Deus são irrevogáveis, sim, mas o contexto e as
condições de recebimento dessas promessas precisam ser compreendidos e
aprofundados. Deus fez pactos com Abraão e com Davi e ambos encontram
cumprimento na pessoa de Jesus, por isso são eternos! Assim é que Paulo (vamos
duvidar dele, um judeu chamado por Cristo?), ao escrever Gálatas 3.16, nos
ensinou que a promessa de posse da terra a ser dada “ao seu descendente”, que a
leitora chamou irrevogável, não encontrou cumprimento no povo judeu
coletivamente, mas novamente em Jesus! O texto diz: “Não aos descendentes, como
se falando de muitos, mas em um só, que é Jesus”. Isso confirma o que
estou argumentando.
Do mesmo modo
acontece com o outro pacto eterno, de que não faltaria sucessor no trono de
Davi. Aprendemos com Pedro (seria ele ignorante a esse respeito?) que a “promessa
irrevogável” de sucessor no trono de Israel também encontra cumprimento na
pessoa de Jesus. Diz Atos 2.29-35, bem claro:
“Irmãos, posso dizer-lhes com franqueza que o patriarca Davi morreu e foi sepultado, e o seu túmulo está entre nós até o dia de hoje. Mas ele era profeta e sabia que Deus lhe prometera sob juramento que colocaria um dos seus descendentes em seu trono. Prevendo isso, falou da ressurreição do Cristo, que não foi abandonado no sepulcro e cujo corpo não sofreu decomposição. Deus ressuscitou este Jesus, e todos nós somos testemunhas desse fato. Exaltado à direita de Deus, ele recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e derramou o que vocês agora veem e ouvem. Pois Davi não subiu ao céu, mas ele mesmo declarou: ‘O Senhor disse ao meu Senhor: Senta-te à minha direita até que eu ponha os teus inimigos como estrado para os teus pés’.” (ênfases acrescentadas)
Quando os hebreus
saíram do Egito, Deus prometeu a ocupação da terra aos judeus. Mas o Salmo 24
diz que a terra toda é do Senhor. Por isso, Êxodo 22.21-23 diz para não
maltratar o estrangeiro. Árabes e palestinos são estrangeiros? Se maltratassem
haveria punição. Da terra de Deus, os povos devem retirar o seu sustento,
porque ela é do Senhor (Salmo 24.1). Não se pode vender nem comprar a terra,
diz o Levítico 25.23 (se tomarmos esse texto rigorosamente, qual a posição
adotar?).
Outra questão
levantada (não pela leitora, mas por outro leitor), é que Isaías
66.8 se cumpriu em 14 de maio de 1948, quando David Bem Guryon declarou a independência
do Estado de Israel. O texto diz: “Quem jamais ouviu tal coisa? Quem viu coisas
semelhantes? Poder-se-ia fazer nascer uma terra num só dia? Nasceria uma nação
de uma só vez? Mas Sião esteve de parto e já deu à luz seus filhos” (fui
informado por um conhecido que essa ideia foi defendida na Revista Jovens 2º
Trimestre 2015. Rio de Janeiro: CPAD. Tema: Jesus e o seu tempo).
A primeira lição de interpretação de textos (hermenêutica)
é a consideração dos contextos imediato e remoto. Dizer que a assembleia que
declarou o início do moderno Estado de Israel fez cumprir a profecia de Isaias
é algo bastante reducionista. Se o autor da revista ou qualquer leitor voltar
apenas um versículo, lerá o seguinte: “Antes de
entrar em trabalho de parto, ela dá à luz; antes de lhe sobrevirem as dores,
ela ganha um menino.” Na tradição cristã, quem é “o menino”, Jesus ou um
país que surgiu no século XX? Veja também o contexto remoto em Isaias 9.3-6 em
que fala do
surgimento de uma nação, mas concluir dizendo que “um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está
sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus
Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz.” Alguma dúvida?
Agora
vejamos o que o Novo Testamento diz sobre essa nação. Ela nasceria num só dia,
e Jesus nasceu num só dia. Ao nascer esse menino, muitos creriam Nele, formando
um só povo, isto é, a nação que Pedro chamou de “geração eleita, sacerdócio
real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as
grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”.
(1Pedro, 2.9, ênfase acrescentada). Assim, o que surgiu num só dia como
profetizado por Isaias foi o Cristo e nele nasceu a Igreja.
Não podemos abrir mão dessa interpretação sob risco
de interpretarmos a Escritura de maneira completamente descontextualizada. Por
hora é o que precisamos compreender.
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